A escala de treinamento é um sistema de formação para cavalos de todas as raças mundialmente aceito. O sistema foi desenvolvido ao longo de séculos, compilando experiências, pensamentos e ideias de grandes mestres internacionais.
O que é a escala de treinamento?
A escala descreve sistematicamente um sistema para treinamento de um cavalo jovem bem como já formado, apontando importantes preceitos que devem ser aplicados e respeitados independentemente da modalidade esportiva.
O sistema desenvolve a força, mobilidade e resistência do cavalo visando torná- lo relaxado e obediente aceitando as ajudas do cavaleiro sem forçá-lo a nada.
A escala se resume em seis pontos: ritmo, descontração, contato, impulsão, retidão e reunião. Se o ritmo ou a descontração devem vir em primeiro lugar pode ser controverso. Caso o cavalo tenha um temperamento muito genioso faz sentido priorizar a descontração uma vez que ele precisa primeiramente relaxar para se movimentar no ritmo adequado em cada uma das andaduras: passo, trote e galope.
Nenhum dos seis pontos da escala de treinamento pode ser considerado isoladamente e o cavaleiro deve respeitar as aptidões individuais de seu cavalo adaptando-as ao esquema de treinamento.
No Adestramento, o cumprimento da escala é imprescindível. Porém também nas modalidades Salto e Concurso Completo de Equitação, o cavalo deve experienciar um trabalho de base e formação sistemático, desenvolendo suas aptidões físicas e esportivas aceitando as ajudas do cavaleiro de modo natural, harmônico e sem uso da força, o que ao mesmo tempo favorece sua saúde e tempo de atividade no esporte.
O que significa cada um dos pontos da escala de treinamento?
RITMO
O ritmo é a regularidade das passadas em todas as andaduras e sequencia correta e regular das batidas de cada um dos membros no passo, trote e galope. O tempo é a velocidade do ritmo.
Lembrete: isso significa que a cada passo o cavalo precisa cobrir o mesmo terreno (espaço) e, ao mesmo tempo, não deve hesitar nem se precipitar (acelerar). O ritmo deve ser igualmente preservado nas variações das andaduras (trabalho, médio, alongado e reunido) tanto em linhas retas como nas linhas curvas, transições e mudanças de direção. Nenhum exercício pode ser considerado se há perda de ritmo.
A destacar que deve se respeitar o ritmo de cada uma das andaduras: no passo (4 tempos), trote (2 tempos) e galope (3 tempos). (Assunto que requer um capítulo à parte).
DESCONTRAÇÃO
A descontração engloba o estado físico mas também mental do cavalo e deve, junto com o ritmo, ser o principal objetivo na iniciação do cavalo. O ritmo das andaduras só está correto se executado com descontração e oscilação do dorso em que os músculos se contraem e descontraem com naturalidade e aceitando as ajudas do cavaleiro.
Sinais que apontam para descontração interna e externa
Expressão calma e sem ansiedade
A habilidade de alongar e descontrair a musculatura de forma suave e fluente
Boca fechada, suave mastigação da embocadura e contato elástico
Oscilação do dorso e sustentação da cauda relaxada e oscilando com o movimento
Respiração rítmica mostrando que o cavalo está física e mentalmente relaxado
Lembrete: A descontração é alcançada quando o cavalo está preparado a esticar o pescoço para frente e para baixo nas três andaduras. O cavalo se movimenta oscilando o dorso e com andaduras naturais e ritmadas para frente sem se precipitar. O cavaleiro consegue empregar a pressão das pernas e fazer uso do assento/sentar com suavidade.
CONTATO
Contato é a conexão permanente entre a mão do cavaleiro e boca do cavalo, em que cavalo está com a nuca descontraída e aceita as indicações das rédeas do cavaleiro. O cavalo com sua movimentação descontraída, ritmada e para frente, pela qual o cavaleiro é responsável com emprego de suas ajudas, deve procurar encostar na embocadura e com isso “estar na mão” do cavalo.
Também costuma-se dizer: “o cavalo busca o contato que, por sua vez, é permitido pelo cavaleiro”.
Lembrete: O contato nunca deve ser alcançado puxando para trás (ou recuando) o cavalo, mas o resultado do movimento impulsionado de modo correto, de trás para frente. É imprescindível que a nuca seja sempre o ponto mais alto do cavalo, exceto no exercício de alongamento do pescoço para frente e para baixo.
Um cavalo está na mão quando o pescoço se posiciona elevado e arredondado conforme o estágio de seu treinamento e aceita a embocadura em contato leve e consistente. A cabeça deve se manter em atitude fixa, com o chanfro ligeiramente à frente da vertical, nuca flexível e o ponto mais alto do pescoço, sem resistência.
É necessário evitar que cavalos jovens em formação bem como em estágios mais avançados sejam precipitadamente colocados “na mão” durante a fase de descontração. O uso excessivo e antecipado da mão prejudica a descontração, a atividade dos posteriores e o objetivo geral da escala de treinamento.
IMPULSÃO
A impulsão é consequência da atividade enérgica dos posteriores que se reflete na desejada movimentação para frente do cavalo. Um cavalo impulsionado anda com os posteriores ativos e membros avançando bem durante a fase suspensão (trote e galope) sem precipitação. (O passo não tem tempo de suspensão e, por isso, não pode se falar em impulsão, mas em atividade). O cavalo deve estar descontraído, a musculatura dorsal oscilando e em contato correto e suave com a mão do cavaleiro.
A musculatura dorsal absorve o movimento e o cavaleiro, sintonizado com a movimentação, consegue sentar confortavelmente. O cavaleiro deve sentir a impulsão dos posteriores de trás para frente. Também costuma-se dizer: “o cavalo leva o cavaleiro consigo.”
Lembrete: O desenvolvimento e apri- moramento da impulsão é fundamen- tal para criar o desejo de avançar e desenvolver a força dos posteriores para sustentação. A impulsão também é pré-requisito para a retidão e reunião do cavalo.
Não deve se confundir impulsão com aumento de velocidade. Se o cavalo for montado de modo precipitado, a fase de suspensão é prejudicada. A movimentação acelerada pode até manter o ritmo, mas altera o tempo e a impulsão é prejudicada.
RETIDÃO
Um cavalo está reto quando os posteriores e anteriores estão alinhados na mesma pista, o que significa que os posteriores andam na mesma trilha dos anteriores (marcadas pelas pegadas dos cascos). O mesmo posicionamento vale em linhas curvas e retas.
A retidão presume a distribuição igualitária do corpo do cavalo (direita e esquerda) e é alcançada com exercícios consequentes de ambos os lados. A maioria dos cavalos tem um lado mais fácil que o outro de nascença, assim como nos humanos canhotos e destros.
A posição do cavalo deve ser reta para:
Distribuir o peso de modo igual de ambos os lados para prevenir possibilidades de lesão
Ativação dos posteriores em direção ao centro de gravidade
Corresponder às ajudas de modo relaxado e conectado
Encostar no bridão com contato igual de ambos os lados
Alcançar a reunião
O cavalo reto é capaz de ser encurvado e flexionado igualmente para ambos os lados.
Lembrete: Em um cavalo reto a força da movimentação dos posteriores age inteiramente na direção do centro de gravidade. Por outro lado, somente assim as diversas ações/ajudas do cavaleiro agem corretamente e igualmente sobre ambos os posteriores.
REUNIÃO
A reunião é o último ponto da escala de treinamento. Para tanto, é necessário que o peso do cavalo incluindo do cavaleiro seja igualmente distribuído sobre os quatro membros. Os membros anteriores que por natureza carregam a maior parte do peso devem ser aliviados e os posteriores, que em primeira linha são responsáveis pelo movimento para frente, engajados e mais exigidos.
Na reunião os posteriores com maior engajamento e flexionamento dos curvilhões vêm de encontro ao centro de gravidade, aliviando os anteriores que por sua vez ganham leveza e liberdade de ação. O cavaleiro e quem vê o conjunto tem a sensação de que o cavalo se movimenta para cima / sentido ascendente. Na reunião a amplitude da andaduras diminui sem prejuízo do trabalho e atividade.
Lembrete: O cavalo por natureza carrega a maior parte de seu peso sobre os anteriores. Essa distribuição do peso acrescida ao do cavaleiro que se posiciona logo atrás das espáduas é ainda mais desfavorável e a busca em colocar o peso sob os posteriores é extremamente importante para a saúde do cavalo e qualidade de suas andaduras. Reunião na medida certa é invariavelmente vantajosa para os cavalos de todas as modalidades.
Sem dúvida é possível desenvolver a força de sustentação dos posteriores, com desenvolvimento da musculatura. O favorecimento da sustentação dos anteriores é muito limitado. Com boa sustentação de seu peso, o cavalo é, portanto, capaz de se movimentar de modo equilibrado e autossustentado.
CONEXÃO
Por conexão se entende a disponibilidade do cavalo ser capaz de aceitar as ajudas leves do cavaleiro como meias paradas e transições sem hesitação ou resistência. As indicações do assento, pernas e mãos do cavaleiro passando pela nuca, pescoço e dorso devem se refletir nos posteriores de modo descontraído sem causar qualquer tensão e bloqueio no corpo do cavalo.
Lembrete: A conexão se dá quando o cavalo, em ambas as mãos, reage de modo descontraído e submisso ao emprego das ajudas nas diversas andaduras, suas particularidades e movimentos.
Um cavalo que a qualquer momento pode ser reunido atingiu o mais alto grau de conexão (throughness).
CBH com as fontes: Federação Alemã – Formação base para o cavalo e cavaleiro (volume I), FEI Dressage Handbook, Regulamento de Adestramento CBH