segunda-feira, 18/novembro/2024
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Saúde Animal – EPM: A doença do gambá

A Mieloencefalite Protozoária Equina (EPM) é uma enfermidade de origem neurológica causada pela infecção e instalação do protozoário Sarcocystis neurona no encefalo ou na medula espinhal e se caracteriza principalmente pela incoordenação motora decorrente da diminuição da propriocepção e fraqueza muscular.

O protozoário Sarcocystis neurona, coccidio da família Sarcocystidae se reproduz no intestino dos gambás (Didelphis virginiana ou Didelphis Albiventris) e os esporocistos (fase imatura do protozoário) são excretados com as fezes e contaminam o ambiente. Os cavalos se infectam quando ingerem estes esporocistos que podem estar presentes no feno, na água ou nas pastagens. Pássaros podem ser vetores mecânicos após ingerirem grandes quantidades de esporocistos nas fezes de gambás e carrearem até as instalações dos animais.

O ciclo de vida do S. neurona permanece parcialmente desconhecido. Os gambás são hospedeiros definitivos, mas não se observa doença clínica nestes animais e os hospedeiros intermediários recentemente estão sendo catalogados e descritos, entre eles, o gato doméstico, os e possivelmente no Brasil as Jaratatacas (Conepatus Smistriatus) e os tatus. Outros animais provavelmente devem estar incluídos nesse grupo, porém ainda estão sendo estudados. A contaminação se dá somente pelo ambiente contaminado com as fezes dos gambás, os cavalos são hospedeiros acidentais deste protozoário e não fazem parte do ciclo sendo incapazes de transmitirem a doença a outros animais que convivem juntos. Os hospedeiros intermediários apenas infectam os gambás e contribuem para o ciclo do protozoário, não causando perigo para os cavalos.

Depois de contaminados os cavalos podem demorar de três a quatro semanas até dois anos para apresentarem os primeiros sintomas os quais se caracterizam por tropeços, dificuldade de galopar, de andar em círculos e de se levantar e podem se agravar rapidamente para casos mais agudos quando o cavalo tem muita dificuldade de se locomover e para casos ainda mais graves e agudos quando o animal se deita e não consegue se levantar.

Os sinais clínicos da EPM são extremamente variáveis, dependem da localização e severidade onde o protozoário se instala e são consequentes da lesão neuronal direta provocada pelo parasita ou danos secundários provocados pela resposta inflamatória que compromete o sistema nervoso central.

A apresentação clássica da doença é de incoordenação motora assimétrica e pode algumas vezes estar acompanhada de atrofia muscular dos membros inferiores. Geralmente os animais apresentam-se alertas e responsivos, porém em raros casos podem ocorrer alterações comportamentais. Quando o animal caminha, frequentemente observa-se incoordenação com movimentos de lateralização, que pioram quando o animal anda em círculo, para trás ou com a cabeça erguida.

A doença pode ser aguda ou crônica e os sintomas variáveis podendo levar a ser confundida com outras enfermidades neurológicas medulares dos equinos como mielopatia cervical estenótica, traumas encefálicos, traumas medulares, doença do neurônio motor, otite média/interna, mielite equina por herpesvírus, entre outras.

A mieloencefalite por protozoários não produz alterações consistentes no hemograma e por esse motivo o diagnostico conclusivo é através da apresentação de anticorpos contra o protozoário no liquido cefaloraquidiano no exame Western Blot, feito nos USA.

O tratamento é baseado no uso de drogas antimicrobianas que atuem diretamente sobre o parasito. Os antimicrobianos encontrados no mercado veterinário são a base de Diclazuril, Ponazuril ou Nitazoxanide e são importados. São vendidos em pasta e com dosadores para o peso do animal. O tratamento é diário, leva em média 28 a 30 dias e o prognóstico depende do estágio da doença podendo levar de 40 a 80% as chances do animal se curar.

Vacinas estão sendo desenvolvidas, porém a prevenção do acesso do hospedeiro definitivo aos alimentos oferecidos aos equinos ainda é a melhor medida profilática.

Daniel Zacharias Zago

é veterinário formado pela Universidade de Santo Amaro (UNISA) e atua nas áreas de manejo de pastagens, nutrição, reprodução, neonatalogia e cirurgia
e-mail: danielzago@terra.com.br

Fonte: Revista Horse / Por Fora das Pistas

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